terça-feira, 29 de outubro de 2013

Como investigar um paciente com hipertireoidismo clínico? Quais exames laboratoriais são indispensáveis?

No questionário eletrônico, 85% dos especialistas solicitariam a dosagem de TSH sérico, enquanto que 88% não dispensam pedir o T4 livre. Na verdade, medir TSH por métodos mais modernos (ultra-sensíveis: com capacidade de detecção de valores tão baixos quanto 0.02 mlU/L) é a forma mais sensível de confirmar uma tireotoxicose (sensibilidade 95%, especificidade 92%).  Sempre que possível, a dosagem de TSH deve ser acompanhada de dosagens do T4 livre. No entanto, quase 40% dos entrevistados dosam  T3 total de rotina para o diagnóstico de hipertireoidismo. As alterações nas proteínas transportadoras TBG (Thyroid Binding Globulin), Albumina e Transtirretina podem atrapalhar a dosagem de T4 e T3 totais.  Situações que comumente elevam os níveis séricos de T4 e T3 totais: gravidez, terapia estrogênica/uso de anticoncepcionais, hepatites agudas, hepatite crônica ativa, hepatocarcinoma e uso de tamoxifeno e clofibrato. Precisamos ter muita atenção, pois um falso-diagnóstico de tireotoxicose pode acontecer nestas condições.

Quando o hipertireoidismo já é clínico (e não subclínico) os níveis de T4 livre estão aumentados e o TSH está suprimido. Nos estágios iniciais da Doença de Graves ou no Bócio uninodular/multinodular tóxico, apenas os níveis de T3 podem apresentar uma elevação inicial isolada, condição clínica reconhecida como Tireotoxicose do T3. Outrora comum, a utilização de T3 em fórmulas de emagrecimento, leva à níveis altos de T3, baixos de T4 livre e tireoglobulina, associados ao TSH suprimido. Em situações ainda mais raras como TSHomas (tumores hipofisários produtores de TSH) e Síndrome de Resistência aos hormônios tireoidianos encontraremos TSH anormalmente não suprimido ( normal/elevado) coexistindo com níveis elevados de T4 livre e T3 séricos.

TRAB: Quantificar TRAB (anticorpo anti-receptor de TSH) é dispensável, na maioria dos casos, para o diagnóstico do hipertireoidismo. No entanto é útil para acompanhamento de gestantes (para acessar risco de tireotoxicose por passagem transplacentária do anticorpo) e no diagnóstico diferencial com tireotoxicose gestacional e tireoidites. No paciente com Orbitopatia de Graves ativa (sinais de inflamação ocular acentuados) o TRAB deve ser acompanhado e, se persistentemente elevado, pode representar um fator de risco de recidiva da doença. Cintilografia da Tireoide com captação: utilizando I123 ou I131, pode ser empregada para diferenciar Doença de Graves, Bócio multinodular e Tireoidites. Lembrando que é um exame contra-indicado durante a gestação e amamentação. Ultrassonografia de tireoide com Doppler não é utilizada de rotina, mas pode ser solicitada em casos de palpação de nódulos ou em gestantes que não podem submeter-se a cintilografia. Uma ultrassonografia com pode encontrar alterações de textura e de padrão de vascularização que auxiliam na distinção entre Doença de Graves e Tireoidite destrutiva.  

Diagnosticar e definir a etiologia da tireotoxicose é etapa essencial para o correto manejo destes pacientes. Não há razão para incertezas, uma vez que os recursos diagnósticos nos auxiliam nisto. Desta forma, teremos mais segurança para individualizar e optar pela melhor opção terapêutica. Prosseguiremos as discussões com questionamentos e respostas sobre o tratamento do paciente com hipertireoidismo.   

3 comentários:

  1. muito bom.. gostei.. vou acompanhar..
    abraços, marcos maffioletti

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  2. Helton, qual dosagem do T3 deve ser levada em consideração nos casos de hipertireoidismo o Livre, Total ou os dois?
    Parabéns pela iniciativa do blog.

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  3. Cara Maria. O T3 total é utilizado e se muito elevado é fator de mau prognóstico na Doença de Graves. Não existe muita utilidade para a dosagem de T3 livre, podendo ser útil em situações de suspeita para alterações da TBG e Albumina.

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